O sono é uma necessidade fisiológica básica cuja importância é muitas vezes menosprezada, no ritmo rápido e “tecnológico” em que vivemos. Quem de nós nunca sentiu o seu bem-estar, humor e produtividade serem afetados depois de uma noite mal dormida?
A ciência tem-nos permitido compreender melhor as funções das necessidades básicas fisiológicas, como o sono, a nutrição e o exercício físico para o bem-estar e a saúde física e mental. A importância do sono é, deste modo, um tema de investigação que mobiliza as neurociências em busca de evidências que apoiem boas práticas também na área educativa, em prol de uma boa aprendizagem.
O sono constitui-se por uma ocorrência cíclica de períodos de REM ( Rapid Eye Movement ou movimento rápido de olhos) e não REM. Um período típico de sono noturno inclui quatro a cinco ciclos de Não REM – REM com cerca de noventa minutos de duração cada. O primeiro ciclo Não REM-REM é caracterizado por ondas de sono lentas, onde o sono é mais profundo, seguido por períodos de REM mais intensos e extensivos.
A função mais importante do sono é a de codificação e consolidação das memórias; durante os ciclos de Não REM, dá-se a consolidação de memórias episódicas e também uma re-organização neuronal, imprescindível para a aprendizagem.
A necessidade de dormir varia com a idade das pessoas; as crianças necessitam de dormir dez a doze horas por noite, enquanto que para os adolescentes nove horas são suficientes para um bom funcionamento.
A privação contínua ou má qualidade do sono pode afetar significativamente funções cognitivas e emocionais, pelo fato de não permitir ao cérebro a re-organização das memórias e ligações neuronais, comprometendo deste modo a aquisição e acomodação de novas informações.
Para além de uma boa noite de sono, estudos demonstram que uma pequena sesta a meio da tarde ou depois das aulas da manhã (menos de sessenta minutos) pode potenciar a aprendizagem e a consolidação dos conhecimentos, tornando-os mais resistentes aos esquecimentos que podem ocorrer durante o dia. Também foram verificadas que pequenas sestas de seis minutos beneficiam a codificação das memórias.
Apesar de por vezes ser difícil controlar a função do sono nos adolescentes e crianças, especialmente em período escolar e pela carga horária diária das aulas, existem ainda algumas medidas que os pais podem estabelecer, de modo a potenciar a qualidade do sono dos seus filhos:
• Modere o acesso às tecnologias (Smartphones, Computador, TV) e Internet no período noturno; no mínimo duas horas antes de dormir, as crianças e adolescentes deverão ter um ritual calmo para iniciar um sono restabelecedor. Para as crianças ler uma história calma ajudará os mesmos a adormecer melhor (e também ajudará os pais a relaxar). No caso dos adolescentes poderá ser uma boa altura para comunicar com os mesmos sobre o dia de escola ou estimular para a leitura de um livro.
• Cozinhe refeições leves ao jantar e algumas horas antes da hora de deitar, de modo a que a digestão não seja dificultada e não haja a sensação desconfortável de enfartamento, que não ajuda ao descanso.
• Estabeleça um horário para o sono para os seus filhos e seja firme a cumpri-lo. Também poderá dar o seu exemplo, sempre que possível, não se deitando a horas tardias. Irá ver que o seu dia será bem mais produtivo e estará mais “desperto” ao mundo.
Este texto baseou algumas informações no artigo: “Sleep and school education” de Sidarta Ribeiro e Robert Stickgold, publicado em 2014 no Jornal Trends in Neuroscience and Education.
Ana Isa Figueira 
Você precisa fazer login para comentar.